terça-feira, 21 de abril de 2009

'Ter ou não ter namorado , eis a questão'


Quem não tem namorado é alguém que
tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de
pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira,
flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é
muito difícil.


Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser
aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua
frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda
ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.


Quem não tem namorado não é quem
não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes,
dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não
ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema,
sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no
trabalho.


Não tem namorado quem transa sem carinho, quem
se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.


Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas
com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida,
escondida, fugidia ou impossível de curar.


Não tem namorado quem não sabe dar o valor de
mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no
muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou
Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a
meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô,
bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.


Não tem namorado quem não gosta de dormir,
fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de
falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro
dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.


Não tem namorado quem não redescobre a criança
e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton
Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.


Não tem namorado quem não tem música secreta
com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia
com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem
gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o
gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do
dia de sol em plena praia cheia de rivais.


Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem
namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o
outro ir junto com ele.


Não tem namorado que confunde solidão com ficar
sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e
quem tem medo de ser afetivo.


Se você não tem namorado porque não descobriu
que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia
mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com
margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma
escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio
jardim.


Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para
quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e
beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de
flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola
falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.


Se você não tem namorado é porque não
enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente,
parecer que faz sentido.


(Artur da Távola)

Recebi esse texto de um amigo, e resolvi postar
aqui porque achei-o perfeito: tudo a ver com o que penso
;)

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